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terça-feira, 8 de março de 2011

Lady Susan - Carta 24 em Português

Sra. Vernon a Lady de Courcy
Churchill

Minha querida mãe, pouco podia imaginar quando enviei minha última carta, que a deliciosa agitação de espírito que eu sentia então, passaria tão rápido, e que seria revertida em tanta melancolia. Eu nunca poderei lamentar o suficiente por tudo que escrevi para você. Mas, quem poderia ter previsto o que aconteceu?
Minha querida mãe, toda a esperança que me fez tão feliz apenas duas horas atrás, desapareceu. A briga entre Lady Susan e Reginald acabou, e todos nós estamos como estávamos antes. Ganhamos apenas em uma coisa: Sir James foi dispensado.
O que podemos esperar agora? Estou realmente decepcionada, Reginald estava pronto para ir embora, seu cavalo foi encomendado e tudo, só faltava ser trazido à porta, quem não teria se sentido seguro? Durante meia hora fiquei na expectativa momentânea de sua partida.
Depois que eu tinha enviado minha carta para você, fui até o Sr.Vernon, sentei-me com ele e conversamos sobre o assunto, e, em seguida, resolvi dar uma olhada em Frederica, a quem não tinha visto desde o café da manhã.
Eu a encontrei na escada e vi que estava chorando. “minha querida tia”, disse ela “ele está indo – o Sr. de Courcy está indo e é tudo culpa minha. Eu tenho medo que você fique muito zangada comigo, mas eu não fazia idéia de que acabaria assim.” “Meu amor”, eu respondi, “não acho que seja necessário pedir desculpas a mim por conta disso. Me sentirei em dívida com qualquer um que seja o responsável pela ida de meu irmão para casa. Porque” lembrei-me “meu pai quer muito vê-lo. Mas o que você fez para ocasionar isso?”
Ela corou profundamente ao responder: “Eu estava tão infeliz por causa de Sir James Martin que não pude evitar – eu fiz algo muito errado, eu sei, mas você não faz idéia da miséria que eu estava. Minha mãe me ordenou que eu nunca mais falasse sobre o assunto com você ou meu tio.” “Você então falou com meu irmão para que ele interferisse” disse eu para poupar sua explicação.
“Não, mas eu escrevi a ele. Eu, de fato, levantei esta manhã antes que houvesse luz, quando faltavam umas duas horas para amanhecer. E quando minha carta estava pronta, pensei que nunca teria coragem para entregá-la. Após o café da manhã, no entanto, quando estava indo para meu quarto, eu o encontrei no corredor, e em seguida, como eu sabia que tudo dependeria desse momento, eu me forcei a entregá-la.
“Ele é tão bom que pegou-a imediatamente. Não ousei olhar para ele, e corri imediatamente. Eu estava tão assustada que mal podia respirar. Minha tia querida, você não sabe quão miserável eu sou.”
“Frederica”, eu disse, “você deveria ter me contado todas as suas angustias. Você teria encontrado em mim uma amiga sempre pronta para ajudá-la. Você acha que seu tio ou eu não teríamos defendido sua causa tão bem quanto meu irmão?” “na verdade, eu não tinha dúvidas de sua bondade”, disse ela corando de novo, “mas, eu pensei que o Sr. de Courcy pudesse influenciar minha mãe, porém eu estava enganada, eles tiveram uma briga terrível sobre o assunto e agora ele está indo embora. Minha mãe nunca vai me perdoar e eu ficarei pior do que nunca.”
“Não, você não vai”, respondi, “ nesta situação a proibição de sua mãe não deveria ter impedido você de falar comigo sobre o assunto. Ela não tem o direito de fazê-la infeliz e não vai fazer. Sua solicitação a Reginald, no entanto, pode ser de benefício para todas as partes. Acredito que seja melhor assim. No que depender dele você não ficará infeliz por muito tempo.” Naquele momento, qual foi minha surpresa ao ver Reginald sair do quarto de vestir de Lady Susan. Meu coração receou naquele instante. Sua confusão ao me ver era evidente. Frederica imediatamente desapareceu.
“você está indo?”, perguntei, “você vai encontrar o Sr. Vernon em seu quarto.” “Não Catherine, eu não estou indo. Posso falar com você por um instante?” fomos até o meu quarto. “Eu acho”, falou ele, sua confusão mental aumentava enquanto falava, “que eu tenho agido com minha habitual e tola impetuosidade. Tenho incompreendido totalmente Lady Susan, e estava a ponto de deixar a casa sob uma falsa impressão de sua conduta. Tem havido um engano muito grande. Acredito que todos nós nos enganamos.
“Frederica não conhece sua mãe. Lady Susan não quer nada além do bem de sua filha, mas ela não quer ser sua amiga. Sendo assim, Lady Susan nem sempre sabe o que fará sua filha feliz. Além disso, eu não tinha o direito de interferir. A Srta. Vernon cometeu um equívoco ao apelar para mim. Em suma Catherine, tudo deu errado, mas agora está tudo resolvido, felizmente. Creio que Lady Susan queira falar com você sobre o assunto, se você tiver um tempo livre.”
“Certamente”, eu respondi, suspirando profundamente pelo recital de tão infame história. Eu não fiz nenhum comentário, no entanto, pois palavras teriam sido em vão. Reginald se alegrou por poder retirar-se, e eu fui até Lady Susan, curiosa, na verdade, para ouvir sua explicação. "Eu não disse a você", disse ela com um sorriso, "que seu irmão não iria deixar-nos, afinal?" “de fato”, respondi gravemente, “mas eu ficaria lisonjeada se estivesse enganada.”
“eu não teria arriscado tal parecer”, informou ela, “se não tivesse me ocorrido naquele momento, que sua resolução de partir pudesse ter sido ocasionada por uma conversa que tivemos esta manhã, e que terminou em sua insatisfação, e isso por não termos entendido as intenções um do outro.
“Esta idéia me ocorreu no momento e, imediatamente decidi que uma disputa acidental, no qual eu poderia provavelmente ser tão culpada quanto ele, não deveria privá-la de seu irmão. Se você se lembrar, eu saí da sala quase que imediatamente. Eu estava decidida a esclarecer este equívoco tanto quanto possível.
“O caso foi o seguinte: Frederica se opôs violentamente a casar com Sir James.” “E posso perguntar a sua senhoria o que ela deveria ter feito?”, exclamei com certa excitação. "Frederica tem um excelente intelecto, e Sir James não tem nenhum."
“Eu estou longe de lamentar isso minha querida irmã”, replicou ela “ao contrário, sou muito grata por tão favorável atribuição de juízo a minha filha. Sir James é certamente inferior (seus modos de menino fazê-lo parecer pior). Se Frederica possuísse a penetração e as habilidades que eu desejava em minha filha, ou se pelo menos eu soubesse que ela possuía, não teria ficado tão ansiosa por essa aliança.”
“É estranho que você seja a única a ignorar a inteligência de sua filha” "Frederica nunca faz justiça a si mesma, suas maneiras são tímidas e infantis, e, além disso, ela tem medo de mim. Durante a vida de seu pobre pai ela foi uma menina mimada. A severidade que desde então foi necessário que eu mostrasse, alienou sua afeição. Nem o brilho de sua inteligência, nem seu gênio ou o vigor de sua mente a farão progredir.”
"Diga sim que ela foi infeliz na sua educação!"
“Deus sabe, minha querida Sra. Vernon, como estou plenamente ciente disso, mas eu gostaria de esquecer todas as circunstâncias que poderiam lançar a culpa sobre alguém cujo nome é sagrado para mim.” Neste ponto, fingiu chorar, e eu perdi a paciência com ela. “Mas o que?”, disse eu, “você não ia me contar sobre seu desacordo com meu irmão?”
“Ela teve origem por uma ação de minha filha, o que também prova sua falta de juízo e o temor infundado que tem de mim que eu havia mencionado – ela escreveu para o Sr. de Courcy.” “Eu sei que ela fez. Você a proibiu de falar com o Sr. Vernon e comigo sobre sua aflição, o que poderia fazer, portanto, senão recorrer a meu irmão?”
“Bom Deus!”, exclamou ela, “que opinião você têm sobre mim! Você supõe ser possível que eu estivesse consciente de sua infelicidade? Que era meu objetivo tornar minha própria filha miserável, e que eu a havia proibido de falar com você sobre o assunto por medo de que você interrompesse um esquema diabólico? Você me considera totalmente destituída de honestidade e de afeição natural? Seria eu capaz de condená-la a desgraça eterna, quando minha obrigação na terra é promover seu bem-estar? Esta idéia é horrível!”
“Qual era então sua intenção ao insistir em seu silêncio?” “De que adianta minha querida irmã, dar qualquer explicação a você, quando a questão continuará de pé? Por que eu deveria submetê-la a rogos que eu mesmo me recusei a atender? Nem para você, nem para ela e nem para mim própria poderia ser uma coisa desejável. Quando minha decisão foi tomada, não podia desejar a interferência, mesmo que amigável, de outra pessoa. Eu estava errada, é verdade, mas acreditava que estava certa.”
“Mas, que erro é esse que vossa senhoria tantas vezes alude? De onde surgiu tão surpreendente equivoco sobre os sentimentos de sua filha? Você não sabia que ela não gostava de Sir James?”
"Eu sabia que não era absolutamente o homem que ela teria escolhido, mas eu estava convencida de que suas objeções a ele não resultaram de qualquer percepção de sua deficiência. Você não deve questionar-me, porém, minha querida irmã, muito minuciosamente sobre este ponto”, continuou ela, pegando cariosamente minhas mãos “Eu mesmo, admito honestamente, que há algo a esconder.
Frederica me deixa muito infeliz! Seu apelo ao Sr. de Courcy me machuca em particular.
“O que pretendes insinuar”, disse eu, “Com esse ar de mistério? Se você acha que sua filha sente-se afeiçoada a Reginald, sua oposição a Sir James não merece ser menos atendida do que se a causa de sua objeção fosse a consciência de sua tolice. E por que você, em qualquer caso, discute com meu irmão por causa de uma interferência que, deves saber, não é de sua natureza recusar quando instado dessa forma?”
“Seu caráter, você sabe, é emotivo, e ele veio protestar comigo, cheio de compaixão por essa menina mimada. Essa heroína em perigo! Nós incompreendemos um ao outro. Ele acreditou que eu fosse mais culpada do que realmente era, e eu achei sua intromissão menos desculpável do que considero agora.
“Eu tenho uma estima real por ele, e me mortificou muito perceber, como pensava, que essa estima tinha sido tão mal aplicada. Nós dois estávamos alterados, e claro, os dois eram culpados. Sua resolução de deixar Churchill é compatível com sua impaciência habitual.
 “Quando entendi sua intenção, no entanto, e quando comecei a pensar que talvez tivesse sido igualmente equivocado em seu entendimento, resolvi buscar um esclarecimento antes que fosse tarde demais. Sempre sentirei certa afeição por qualquer membro de sua família, e eu teria me sentido sensivelmente machucada se minha familiaridade com o Sr. de Courcy tivesse acabado tão melancolicamente.
“Tudo que tenho para dizer ainda é que, já que estou convencida de que Frederica tem uma aversão razoável por Sir James, eu instantaneamente devo informá-lo que ele deve abandonar qualquer esperança por ela. Eu me censuro por ter, mesmo que inocentemente, feito-a infeliz por causa desse assunto. Ela terá todas as retribuições que estiverem ao meu alcance fazer. Se ela valoriza sua própria felicidade tanto quanto eu, se julgar com sabedoria e se dominar a si própria como deveria, ela pode agora ser mais fácil de lidar.
“Desculpe minha querida irmã, por tomar assim o seu tempo, devo isso ao meu próprio caráter, e após essa explicação, espero não estar em perigo de afundar em sua opinião.” Eu poderia ter dito: "Não muito, certamente!" Mas deixei-a quase em silêncio. Foi o maior trecho de paciência que eu poderia praticar. Eu não teria conseguido parar se tivesse começado.
Sua confiança!  sua fraude! Mas não vou me permitir alongar-me sobre eles, pois lhe parecem suficientes. Meu coração adoece dentro de mim.
 Assim que fiquei razoavelmente composta, voltei à sala. A carruagem de Sir James estava na porta, e ele, alegre como de costume, logo em seguida se despediu. Com que facilidade sua senhoria promove ou demite um amante!
Apesar desse livramento, Frederica ainda parece infeliz. Ainda com medo, talvez, da ira de sua mãe, e, embora temendo a partida de meu irmão, ciumenta de sua permanência. Eu vejo como ela observa atentamente ele e Lady Susan, pobre menina! Já não vejo esperança para ela. Não há chance de seu afeto ser devolvido. Ele pensa muito diferente dela do que costumava pensar, ele faz-lhe alguma justiça, mas sua reconciliação com a mãe se opõe a todas as esperanças de afeto. Prepare-se, minha querida mãe, para o pior!
As probabilidades de eles se casarem com certeza aumentaram. Ela está mais segura do que nunca. Quando esse evento terrível ocorrer, Frederica deverá pertencer inteiramente a nós.
Estou grata que minha última carta só vai anteceder essa por pouco tempo, já que a cada momento você pode ser salva de uma alegria que só leva ao desapontamento.
Sua sempre
Catherine Vernon


Autora: Jane Austen
Tradução de: Bruna Tavares


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