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segunda-feira, 9 de maio de 2011

Lady Susan - Carta 30 em Português

Lady Susan ao Sr. De Course
Upper Street Seymour.

Recebi sua carta, e apesar de não tentar esconder que estou gratificada com sua impaciência pela hora de nos encontrarmos, ainda me sinto na necessidade de adiar esse momento além do tempo inicialmente fixado. Não pense que sou cruel por tal exercício de meu poder, nem me acuse de instabilidade sem antes ouvir minhas razões.
No decurso de minha viagem de Churchill, eu tive muito tempo livre para refletir sobre a atual condição dos nossos assuntos, e cada análise tem servido para me convencer de que eles requerem uma delicadeza e cautela de conduta a que temos sido até agora pouco atentos.
Nós temos sido apressados por nossos sentimentos a um grau de precipitação que dificilmente está de acordo com as pretensões de nossos amigos ou a opinião do mundo. Temos sido descuidados na elaboração desse compromisso precipitado, mas não devemos concluir a imprudência de consolida-lo enquanto há muitas razões para temer que essa união seja contestada por aqueles amigos de quem você depende.
Não cabe a nós censurar qualquer expectativa da parte de seu pai de um casamento vantajoso. Quando as propriedades são tão amplas como as da sua família, o desejo de aumentá-las, se não for estritamente racional, é muito comum para excitar surpresa ou ressentimento. Ele tem o direito de exigir uma mulher de fortuna como sua nora, e, muitas vezes, brigo comigo mesma pelo sofrimento que causo a você ao formar uma conexão tão imprudente. Mas a influência da razão é muitas vezes reconhecida tardiamente por aqueles que se sentem como eu.
Estou agora poucos meses como viúva, e embora pouco deva a memória de meu marido por toda a felicidade derivada dele durante uma união de alguns anos, não posso esquecer que a indelicadeza de um segundo casamento tão cedo deve sujeitar-me a censura do mundo, e incorrer, o que seria ainda mais insuportável, ao desgosto do Sr. Vernon. Talvez com o tempo eu fique insensível à injustiça da reprovação geral, mas quanto a perda de sua valorizada estima, eu estou, como você sabe, mal equipada para resistir. E quando a isso pode ser adicionado a consciência de ter ferido você e sua família, como posso sustentar-me?
Com sentimentos tão pungentes quanto os meus, a convicção de ter separado um filho de seus pais me faria, mesmo com você, a mais infeliz dos seres. Portanto, será aconselhável adiarmos nossa união – adiar até que as aparências sejam mais promissoras – até que os assuntos tomem um rumo mais favorável. 
Para ajudar-nos nessa resolução, creio que a ausência será necessária. Não devemos nos encontrar. Cruel como essa frase pode parecer, a necessidade de pronunciá-la, que por si só pode conciliá-lo comigo, ficará evidente a você quando considerar nossa situação sob a mesma perspectiva que eu fui imperiosamente obrigada a considerá-la.
Você pode ficar– deve ficar – bem certo de que nada, exceto a mais forte convicção do dever, poderia induzir-me a ferir meus próprios sentimentos, instando uma separação prolongada, você estaria sendo duro se achasse que sou indiferente a você.
Novamente, portanto, eu digo que não devemos, não podemos, ainda nos encontrar. Através de um afastamento de alguns meses vamos tranquilizar os temores de irmã da Sra. Vernon, que acostumada como é ao desfrute das riquezas considera a fortuna necessária a todos, e cuja sensibilidade não é de uma natureza que possa nos compreender.
Deixe-me ouvi-lo em breve, muito breve. Diga-me que você se rende aos meus argumentos e não me censura por usá-los. Não posso suportar censuras, meu espírito não é tão elevado que necessite ser reprimido.
Devo esforçar-me por buscar diversão e, felizmente, muitos dos meus amigos estão na cidade, entre eles o Mainwarings, você sabe o quão sinceramente considero a ambos, marido e mulher.
Eu sou muito fiel a você.
S. Vernon






Autora: Jane Austen


Tradução de: Bruna Tavares






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